19.9.09

Castelum de Tourones - Revordanus

A importância estratégica do território de Rebordãos foi valorizada por todos os indivíduos que nela se interessaram. Mesmo supondo que a sua ocupação efectiva coincida com a ocupação romana ou somente a partir do século IV D.C., o seu nome é já duplamente referido nas Inquirições de 1285, como Revordanos e/ou Rebordãos. Claro está que este topónimo se refere à sua essência naturalista e transmite um claro sentido de "monte de carvalhos".
D. Sancho I concede foral a esta povoação em 1208, espaço importante e com privilégios decorrentes da sua integração na Casa de Bragança. Pois é neste foral que surge a alusão ao "castelum de tourones" na escrita latina: "(...) miles tenuerit castelum de Tourones pouset regalendo(...)", que segundo o ilustre e entusiasta Francisco Felgueiras (Amigos de Bragança, 1966: 19) significava que o cavaleiro fidaldo que detinha o castelo de Tourões estava impossibilitado de pousar em terras reguengas quando o desejasse, ou seja, nas terras de Rebordãos.
Situado num ponto alto da aldeia, está assente num maciço rochoso, "fragueiro gigantesco", com acesso limitado a sul e a nascente. A poente, o declive é repentino e corta um vazio de grande altitude, que lhe afirma distinta honra e temor para aqueles que o avistam ou visitam.
Esta fortificação terá sido ocupada por um sarraceno que se orgulhava do seu domínio sobre as várias povoações circunvizinhas e das quais exigia um tributo violento de várias mulheres, destinadas a animar e enriquecer o seu harém. Este dominador, mouro de referência, gostava de conservar o seu poder e mantinha bem alimentado um conjunto de leões que oferecia uma inegável defesa do castelo e dissuadia qualquer tipo de revolta popular contra o fidelíssimo ocupante.
O tempo encarregou-se de fazer produzir no imaginário dos seus habitantes (dominados e sujeitos a tal obrigação) uma forma de ocupar o castelo e assim desenhou-se a traição desejada. Consta então na lenda local que uma das escravas, sendo devidamente avisada para o efeito, e num momento de aparente tranquilidade e em pleno cenário nocturno, escapa do seu indesejado inferno e acende uma vela num local visível pelos conspiradores e assinala assim o destino do mal amado sarraceno. A noite terminaria com a ocupação do castelo e a morte do seu régulo. O ódio dos ocupantes (antes dominados) concretizou o resto do desejo colectivo em destruir os bens e o que o castelo representava e assegurou a vida das donzelas aprisionadas.
Ora o local onde a vela terá sido acesa ainda hoje é conhecido pelo vale da vela acesa ou, melhor dizendo, segundo a sabedoria local, o "Lameiro da Talvela".
O castelo ainda marca uma presença discreta mas, para aqueles que experimentam a sua existência, fortes emoções e sentimentos de respeito e atenção são-lhe seguramente atribuídas. Este local decerto que assumiria um cenário da luta entre cristãos e sarracenos, ou noutro cenário mais longínquo um local estratégico para a comunicação de sinais de fumo ou de acesas luzes nas noites de apelo aos povos vizinhos...
Remeto para a vossa imaginação a força desta rocha da memória e evoco os "velhos baluartes de defesa da região: castelo de Bragança e Outeiro, o de Vimioso e Azinhoso ou de Mogadouro e Penas Roias, até ao de Monforte"! Fitar este castelo assente na natureza representa sempre um retomar da nossa história e um sentimento de respeito e (in)significância... O carvalho-negral é belo e infinito, é sangue novo para quem respira no seu ventre, é sorte única contemplar a sua força colectiva. É Rebordãos em pessoa!

Sem comentários:

Enviar um comentário

 
Licença Creative Commons
Este trabalho de Cláudia Martins e Sérgio Ferreira, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial 3.0 Não Adaptada.