Sempre ouvi dizer que quem sabe latim sabe mais de português e, como consequência, pode intuitivamente aprender mais e melhor qualquer outra língua românica. Como todas as crenças, tem o seu lado de verdade e o seu de menor veracidade.
Efectivamente, o português é uma língua românica, chamada também língua romance ou novilatina, uma vez que nasceu do Latim, trazida pelos romanos aquando da pré-invasão (de que Trás-os-Montes foi alvo) e das invasões romanas posteriores. O Latim pertencia ao grupo itálico que, por sua vez, pertencia à mega-família Proto-Indo-Europeia. A esta mega-família, pertencem línguas como o alemão, o inglês, o finlandês, o lituano, o búlgaro, o polaco, o bengali, entre muitas outras, pertencentes a diferentes famílias de línguas.
Revordanus seria então o nome da actual aldeia, outrora vila aforada, de Rebordãos. Etimologicamente falando, esta palavra sofreu ao longo dos séculos um conjunto de fenómenos fonéticos que a transformaram na sua forma actual. Revordanus seria a forma de nominativo, ou seja, o primeiro caso da segunda declinação (maioritariamente masculina) que desempenhava a função sintáctica de sujeito: “Revordanus belum est” [Rebordãos é belo]. No entanto, a Linguística Diacrónica, aquela que estuda a história da língua, diz-nos que a entrada do léxico romano no dialecto português de então deu-se por meio do acusativo, terceiro caso declinacional, com a função sintáctica de complemento directo: Revordanum.
Desta forma, revordanum teria sido o nome da aldeia que, por regra do acusativo, sofre uma apócope, isto é, a queda do -m final. Ter-se-á também dado a nasalação do a devido à influência do -n- intervocálico (entre vogais) e a consequente síncope desse mesmo n, novamente a queda de um som dentro de uma palavra.
Finalmente, resta referir a alteração do /v/ para /b/, uma espécie de ensurdecimento da consoante sonora numa surda, provavelmente designada como assimilação parcial, numa tentativa de tornar um segmento sonoro mais semelhante a outro próximo, neste caso o /d/.
No entanto, todas estas alterações terão ocorrido em cadeia numa determinada progressão temporal, não necessariamente coincidente com a apresentada. Por exemplo, a queda do -n- intervocálico data do século IX.
Quando falamos de história da língua, há muitas incertezas e, como tal, também esta breve explicação diacrónica pode não estar totalmente correcta.